OS NOVOS VÍNCULOS VIRTUAIS
Os recentes e rápidos avanços da tecnologia revolucionaram nossos conceitos de indivíduo e sociedade. As áreas de comunicação e informática redefiniram as qualidades dos vínculos que construímos. Temos nos isolado cada vez mais, diante das telas que incorporamos na nossa rotina para facilitar a comunicação. Ao transformarmos a tecnologia mediadora no contato humano, surgem perguntas como: que nível de relação se estabelecerá entre as pessoas? Qual tipo de compromissos poderão ser assumidos? Serão satisfeitas as necessidades de interação e participação social? Quais as responsabilidades que devem ser assumidas pelas ações virtuais?
Hoje, assistimos formas relacionais inéditas, como por exemplo, a relação do homem com a Internet, que funciona, neste caso, como produtora instantânea de objetos de satisfação auto-eróticas. Surgem, assim, entre os homens, vínculos mediados por aparelhos e dispositivos, cujo protótipo atual são as interrelações a distância, estabelecidas através da Internet. Essas interrelações constituem, em muitos casos, um atrativo do psiquismo, e tendem, inclusive, a deslocar-se para a vida real. Outras vezes, propiciam o isolamento da pessoa em redes sociais, com relações fictícias e alternáveis.
Observando o conteúdo manifesto dos nossos dias, percebemos que vivemos o tempo da velocidade virtual. Os isolamentos são tendências do pós-modernismo, fato que produz uma crescente desvalorização da experiência no sentido coletivo. As representações sociais referenciadas pela chegada da televisão, acarretaram mudanças sociais tão significativas quanto as atuais produzidas pelo smartphone e internet móvel. O indivíduo precisa, cada vez menos sair do lar para arriscar-se no trabalho ou na diversão, pois as mais diversas experiências chegam até ele através de uma rede social virtual. Afastando-se dos contatos humanos e cada vez mais concentrado em si mesmo e sem experiência social, o indivíduo corta, progressivamente, os laços de identificação com o outro. Assim, incrementam-se os momentos em que permanece isolado frente a computadores e celulares. É comum ter uma TV ou notebook em cada cômodo para passar o tempo a sós, onde o virtual substitui o real e a Internet, cujo uso empobrece a quantidade e a qualidade das vinculações diretas (Terzis, 1997).
Hoje, as redes sociais são um dos principais elementos da cultura informatizada, que permite pensar sobre a identidade em termos de multiplicidade, pois, através dela, as pessoas são capazes de construir um eu ao vagarem por outros tantos eus. Estas redes, em sua realidade virtual, converteram-se em um significativo laboratório social para a experimentação com as construções e reconstruções do eu, que caracterizam a vida pós-moderna. Algumas pessoas sentem-se diferentes quando estão conectadas, mostrando-se extrovertidas e desinibidas, mas não conseguem afirmar; sentem-se como elas mesmas são ou como gostariam de ser. Há também as que inventam outras informações pessoais, estilo de vida e opiniões, assumindo diferentes identidades para cada ocasião ou interlocutor (Turkle, 1997; Barret, 1994).
Em tempos pós-modernos, a identidade vem sendo experimentada como um conjunto de papéis que se pode mesclar e combinar, cujas necessidades internas devem ser atendidas. Muitos teóricos sociais e psicólogos têm se incumbido de captar esta nova experiência de identidade, descrevendo-a como a multiplicação de máscaras, como um eu saturado (Jameson, 1995). Na atualidade, o uso massivo da internet é um fenômeno que se expande com rapidez . Liga milhões de pessoas em novos espaços, revelando-se capaz de mudar a forma de pensarmos, a natureza de nossa sexualidade, nossas comunidades e verdadeiras identidades (Rojas, 1994). A exploração solitária na Internet com finalidade de relacionamento, evidencia o isolamento social em que o homem moderno se auto-conduz.
A prática comum de utilizar redes sociais para encontros sexuais, incita-nos a compreender quais são as fantasias formadas e derivadas da relação sexual virtual; como os usuários podem obter prazer nesta relação em que predomina a digitação e interações superficiais e priva-os da presença e do contato físico destes seus parceiros (Terzis e Souza, 1998). Segundo a psicanalista Turkle (1997), a Internet facilita a realização de fantasias do inconsciente porque garante o anonimato dos usuários e liberdade total de criar novas identidades. Desta forma, a identidade individual variável exerce um fascínio poderoso.
Todos nós somos múltiplos. Na cultura da simulação, não estamos mais sozinhos, com uma identidade fixa. Podemos assumir milhares de outras identidades e algumas delas são nossos próprios fantasmas. Para a mesma autora, a Internet fascina porque permite a troca de características pessoais, de sexo e de idade. A facilidade da troca de identidade, incentiva o aparecimento de um fenômeno que a psicanálise identificou como: sujeitos com personalidades múltiplas, que podem até se tornar patológicas se a fantasia substituir inteiramente o sentido da realidade.
A realidade tecnológica oferece novas possibilidades: o sexo virtual e a mudança do identidade, são partes de uma ampla história de pessoas que se utilizam de espaços virtuais para construir sua nova identidade. Assim, existem novas estratégias no encontro entre as pessoas e os sexos: em tempos de vinculos cibernéticos, podem ser criadas as personagens fictícias que podem não corresponder ao gênero do usuário, nem às suas características físicas ou psíquicas. Enfim, campo aberto para a ficção e para a fantasia.
Sem dúvida, o mundo virtual na atualidade é o lugar nos quais projetamos nossos próprios dramas, os quais somos produtores, diretores e estrelas. Alguns destes dramas são privados, mas cada vez somos mais capazes de atrair outras pessoas. As telas e teclas são o lugar para comunicar as nossas fantasias, tanto eróticas como intelectuais.
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