A PSICANALISE CONTEMPORÂNEA E COMO TRABALHAR COM OS CASOS LIMITES

É consideravelmente relevante no trabalho psicanalítico uma escuta isenta de julgamentos prévios. É necessário o analista não se antecipar e fazer afirmações de diagnósticos, a julgar seus pacientes, é importante dar-lhes crédito até no absurdo, banalidades e distorções que o paciente traz durante a sua sessão.

O analista deve considerar que cada paciente tem uma realidade psíquica distinta que lhe dá um valor. O Freud (1932) escreveu sobre o fenômeno do julgamento e a relação entre sanidade e patologia, dizendo “achamo-nos familiarizados com a noção de que a patologia na medida em que aumenta e agrava-se, pode chamar a atenção do paciente para buscar cuida-la e o analista conduzir o paciente para condições normais, que de outra forma não perceberíamos”. Ai, onde a patologia nos mostra uma ruptura, que pode haver normalmente uma compreensão do paciente para tomar consciência cada vez mais da sua realidade interna psíquica, onde nos revela coisas que de outra forma nos seriam inacessíveis. A necessidade de o paciente vivenciar os conteúdos sentidos significa uma participação diferente do analista. Seu funcionamento mental torna-se importante. É necessário ajudar o paciente a encontrar algo novo, que promova ligaduras com potencial transformador da realidade psíquica (Marrocco, 2007).

O que significa ser analista hoje, no inicio do século XXI? Como trabalhar com os casos limites, por exemplo, não neurótico; e trata-se de pacientes que parecem ter uma relação de extrema ambivalência com o analista e a psicanalise. (Green 2005).   Segundo, Pontalis (1975) define o conceito “fronteira”, a partir da noção “limite”, tanto na normalidade, quanto na patologia.  

A partir deste momento surge uma nova concepção na clínica psicanalítica ampliada sobre os estados limites (pacientes Borderline, neuróticos, psicóticos ou psicossomáticos), e propõe trabalhar a partir de uma nova tática, que coloca o trabalho analítico no limite do funcionamento mental do analista entre a possibilidade de escuta dele próprio e do paciente. Trata-se por definição de pacientes, situações, estados emocionais, experiências que põem em desafio o método interpretativo psicanalítico clássico e exigem por parte do analista uma firme consequência  afetiva e uma elasticidade técnica.

Com a colaboração de Green (1976), o conceito de limite apresenta maior adequação e importância e o transforma num dos conceitos fundamentais da psicanálise contemporânea.  André Green (1976) diz: “devemos considerar o limite como uma fronteira móvel e flexível, tanto na normalidade quanto na patologia. O limite é, talvez, o conceito mais fundamental da psicanalise contemporânea. Ele não deve ser formulado em termos de representação figurada, mas em termos de processos de transformação de energia e de simbolização” (pág. 126).

A metapsicologia dos limites, que se soma à dimensão econômica, topológica e dinâmica, instrumentaliza o psicanalista para que possa se dedicar sobre as mudanças psíquicas e transformar a realidade onde predominam afetos fragmentados tais como o isolamento e ressentimento (Candi, 2019).

O analista para trabalhar com a dor psíquica do paciente deve estar preparado atuar também em situações concretas afetivas e desamparo, com intervenções na comunidade em parceria com a saúde pública em instituições variadas, tais como: escolas, creches, hospitais, instituições de saúde em geral, com populações que maioria das vezes não teria condições de chegar ao consultório do analista ou na clinica privada.

Este trabalho de sofrimento psíquico o analista terá que mergulhar nas vivencias traumáticas e nas transferências dolorosas para criar sentido, elaborar a sua dificuldade e inspirar vida em situações extremas. Assim, o analista contemporâneo poderá ampliar seu método de trabalho de ação e avançar nos territórios dos limites da analise, usando da transferência para deixar se colocar entre dentro e fora, passado e futuro.

Nesta situação o analista é um sujeito aberto às transformações que se preocupam sobre as vicissitudes das mudanças psíquicas que acontecem nele próprio e no seu paciente. Neste sentido, cabe ao analista a difícil tarefa de ter uma identidade fluida, uma escuta psicanalítica que possibilite criar um dialogo entre os nossos anseios intrapsíquicos ligados a nosso emocional, desamparo e sofrimento psíquico, que caracteriza o humano e as exigências de uma realidade externa cada vez mais exigente e repressora.

Segundo Green (2005) para se engajar num tal desafio, o analista de hoje precisa estar profundamente familiarizado com seus próprios conflitos, enfim com sua vida psíquica. Os pacientes que nos desafiam com um funcionamento psíquico a beira da loucura, exigem que tenhamos como instrumento uma imaginação clínica para intuir e compreender os conflitos e não nos deixar levar pelas manipulações. Exige do analista uma firmeza e serenidade interna para não desistir do seu ofício.

Consideramos o método psicanalítico, a associação livre, técnica fundamental do enquadre psicanalítico e os demais dispositivos, como nosso porto seguro neste trabalho psicanalítico árduo. Compreendemos que face a estas situações limites, o analista responde com flexibilidade e elasticidade, a partir do processo analítico. O único que garante a situação analítica é o próprio analista, a sua pessoa e sua ética. Neste sentido, não temos como não insistir na necessidade de uma formação boa e uma analise pessoal que formaram os pilares da psicanalise.  

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