Psicanálise e psicoterapias psicanalíticas: casal-família e grupo e suas raízes históricas

O presente texto visa esclarecer e compartilhar nossa experiência teórica e clínica sobre “psicanálise” e psicoterapias psicanalíticas de casal, família e grupo, suas raízes históricas e situação atual.

A prática psicanalítica de casal, família e grupo e os paradigmas científicos atuais da subjetividade, movimentam e organizam novos debates.

O CEFAS desde uma perspectiva integradora estuda a psicanálise de casal, família e grupo na coprodução de novos saberes almejando romper o isolamento e encontrar vias alternativas a processos de alienação.

O CEFAS oferece cursos de pós-graduação em psicanálise e psicoterapias, promove a profissionalização e a formação continuada há quase  25 anos. O nosso objetivo não se limita aos cursos de pós-graduação, procuramos mobilizar os pontos cegos do campo profissional para conseguir uma discussão mais rica e melhor fundamentada sobre nossos modos de atuar. Buscamos soltar o pensamento num resgate do respeito pela dignidade humana.

Nesta comunicação somos motivados a pensar o que é “psicanálise” e “psicoterapias psicanalíticas de casal, família e grupo” e o conceito de formação no CEFAS: 

A psicanálise é um método científico de investigação e de tratamento do sofrimento psíquico, que investiga os processos mentais inconscientes, através da escuta psicanalítica.

O pensamento e a prática clínica psicanalítica são reconhecidos hoje como uma das mais influentes contribuições para a psicanálise sobre a investigação da psique humana. Assim, a psicanálise trouxe instrumentos teóricos e práticos inéditos e importantes intuições para a clínica de adultos e crianças.

O exercício da investigação psicanalítica, que começa pelo relacionamento entre o consciente e inconsciente, é considerado como uma  ciência que busca tanto a verdade, quanto a ética.

Em relação ao que é psicoterapia psicanalítica de casal, família e grupo, a abordagem está baseada em dois desenvolvimentos específicos: o da prática psicanalítica das relações de objeto, procedente principalmente do trabalho de Freud e Melanie Klein e sua aplicação e o da compreensão das relações grupais seguindo os trabalhos de W. R. Bion, Foulkes, Elliott Jaques e outros como Pontalis, Anzieu, Kaës, da escola francesa. A característica comum deles é o significado atribuído ao papel representado pela fantasia inconsciente na elaboração e desenvolvimento de relacionamentos humanos. Todos enfatizam o uso de sentimentos imediatos espontâneos para elucidar esses mundos internos psíquicos de relacionamentos ou fantasias compartilhadas, na medida em que aparecem dentro dos limites da sessão. Por isso, a importância atribuída aqui para o oferecimento de uma chance aos membros do grupo ou família de entrarem em contato com o que seus sentimentos e serem capazes de pensar coletivamente sobre eles.

Sobre “aprender com a experiência”, Bion discute a relação entre a experiência de frustação e a capacidade de encarar a realidade. Nos lembra de como Freud reconheceu o pensamento como sendo inicialmente estimulado em resposta à experiência de frustração.

 Em relação ao conceito “formação psicanalítica” do candidato no CEFAS:

Tornar-se analista é um processo que busca investigar o nosso mundo intrapsíquico e o mundo interno mental do outro. A formação psicanalítica no CEFAS busca desenvolver no candidato as condições para que este processo ocorra, a partir do tripé da psicanálise: a) seminários teóricos-técnicos clínicos; b) supervisão,c) análise pessoal. . O CEFAS, através da sua experiência como instituto formador, oferece um conselho aos candidatos para que refletam antes do seu ingresso. Pois, é importante ter empatia e curiosidade pelo mundo psíquico e pela vida mental das outras pessoas. Como também é necessário o interesse pela cultura, ciência, arte, filosofia e as relações humanas. Ou seja, é fundamental a valorização do que é humano e a ética.

A psicanálise de grupo se inscreve no contexto das grandes rupturas da pós-modernidade e no movimento psicanalítico. Nesta primeira, o grupo aparece antes de tudo como um modelo da organização e do funcionamento intrapsíquico. É uma forma e um processo da psique individual. Freud chama grupo psíquico a um conjunto de elementos (fantasmas, representações, afetos, pulsões, etc), ligados entre si por investimentos mútuos, que formam certa massa e funcionam como estímulos de ligação. Ainda, Freud descreve formações psíquicas intermediárias e comuns da psique do sujeito singular e aos conjuntos (famílias, grupos, classes, etc) das quais ele é parte constituinte e parte constituída.

No tempo entre guerras, as primeiras formulações de Freud sobre a psique de grupo e sobre a psicologia das massas proporcionavam as bases teóricas para introduzir os primeiros psicanalistas no caminho de uma psicanálise aplicada aos grupos e grupos especiais, casais e famílias.

Um dos primeiros focos da invenção psicanalítica de grupo se forma em Londres, 1940, poucas semanas depois da morte de Freud, meses após o início da Segunda Guerra Mundial. Psicanalistas de sensibilidade, Bion e Foulkes, põem início a “Psicanálise de grupo”, que institui o modelo da cura e, a partir desta nova situação psicanalítica, fundam as bases de uma teoria psicanalítica aplicada nos grupos.

Neste sentido amplo, a psicanálise de grupo é um método de investigação das formações e dos processos psíquicos, que se desenvolvem num grupo. Assim, a psicanálise de grupo, família e casal é uma técnica de psicoterapia psicanalítica de grupo.

Depois, na França, os psicanalistas Missenard; Sapir; Pontalis, J. B; Anzieu, D; Käes, R; Béjarano e Lacan, tem uma influencia decisiva em toda esta efervescência de psicanálise de grupo. Estes psicanalistas propõem a possibilidade de uma escuta psicanalítica aplicada a um contexto grupal. Nos grupos, como no campo psicanalítico da cura clássica, se desenvolvem fenômenos de transferência que sofrem as vicissitudes da situação multipessoal. O discurso manifesto livre (associações livres) de um grupo deve ser observado psicanaliticamente, como ocultando e expressando um discurso latente. É necessário decifrar esse discurso latente a fim de restaurar seu sentido e levar ao grupo a consciência dele.

Finalmente, na Argentina Pichon-Rivière e Bleger apresentam contribuições específicas que fazem articulação consistente entre o espaço psíquico individual e o espaço psíquico do grupo e das instituições. O conceito do vínculo é central na obra de Pichon-Rivière e o conceito de esquema conceitual referencial e operativo (ECRO).

Assim, a transformação introduzida no paradigma metodológico da psicanálise pelo dispositivo do grupo habilita novos campos de conhecimento do inconsciente e de tratamento dos transtornos psíquicos. O grupo é um processo capaz de modificar radicalmente a pessoa, que adquire sua independência e a estrutura do grupo. É uma das técnicas fundamentais no tratamento dos processos psíquicos. O grupo é uma conquista da civilização, como também, garante o desenvolvimento da vida psíquica. Portanto, o grupo é considerado como lugar da manifestação do inconsciente de cada sujeito-participante.

Terzis (2010) nas três últimas décadas, orientou mais de 100 trabalhos de mestrado e doutorado dedicados ao campo da psicologia e psicanálise, no curso de pós-graduação em psicologia PUC Campinas e 120 trabalhos de conclusão de cursos de Formação e Especialização no CEFAS. O autor concluiu que o grupo é considerado uma tópica individual projetada, um espaço específico dos processos e da formação do inconsciente. Ainda, considera o grupo como um dispositivo através do qual são determinadas as produções do inconsciente, que constituem a intrasubjetividade, intersubjetividade e transubjetividade. 

As pessoas que fazem parte do grupo são movidas pela necessidade de enfrentar seus problemas pessoais e conquistar sua independência e autonomia. Por esse motivo, devemos estar permanentemente atentos à articulação das teorias a fim de contribuir para a criação de uma epistemologia da psicanálise dos grupos. O nosso continente necessita dessas técnicas psicanalíticas diante de uma realidade social de escassos recursos econômicos e poucos técnicos para assistir a uma quantidade enorme de pessoas.

Esta é a descrição esclarecedora sobre a evolução do relacionamento da psicanálise de grupo com sua antepassada psicanálise, desde as primeiras elaborações.Espero que essa comunicação possa trazer esclarecimentos relacionados ao que seja psicanálise aplicada aos grupos.   

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