EROS E PSIQUÊ: o funcionamento sadio da PsiquÊ domínio a si mesmo e ao mundo

Sem dúvida sempre houve a compreensão de que os mitos e as lendas desvelam as paixões do humano. Nas palavras de Paul Diel “os mitos falam do destino humano sob seu aspecto essencial; destino resultante do funcionamento mental sadio ou doentio” (evolutivo ou involutivo do psiquismo) (Diel, 1966, p.13). Por outro lado, as motivações das ações humanas mostram-se difíceis de serem desveladas.

A psicanalise freudiana, ao estudar as instâncias do psiquismo, descobriu a função simbolizadora. O desdobramento do sentido moral (complexo de édipo). Consideramos que os mitos devem, segundo seu sentido oculto, tratar da psique e de seu funcionamento mental (Freud, 1900).

Com a ajuda de símbolos, compreendemos como o homem combate a tendência à exaltação afetiva dos desejos, a ilusão, a imaginação, a exaltação, o monstro sedutor que simboliza uma função psíquica (a exaltação imaginativa ou os desejos livres). As armas emprestadas pela instancia psíquica egoica, dão forma a duas funções psíquicas: a força do pensamento elaborativo e de  sublimação.

Assim, só o homem, pela via da sublimação e responsabilidade tem o poder de vencer a exaltação imaginativa, os desejos primitivos ou a deformação mórbida psíquica.

O homem pode e deve, através do funcionamento sadio da psique, dominar a si mesmo e ao mundo. É a lei fundamental da vida. Assim, os combates heroicos dos mitos concretizam as aventuras essenciais de cada vida humana, constituídas pelas possibilidades de sublimação e de um ego heroico. Essas aventuras miticas em seu conjunto nada são além da própria vida psíquica, suas manifestações e seus fenômenos psíquicos (Taplin, 1990).

Porém o seu sentido real da vida resume-se na evolução psíquica. O funcionamento psíquico, tema do mito: “Eros e Psique”, é uma constelação evolutiva, que resulta da evolução passada e aspira a evolução futura.

O poder dos mitos abrange as mais diversas pesquisas e tem contribuído com interpretações que foram válidas de conformidade com a época e a psicanálise do momento. No mito aparece um ambiente a metade real e a metade fantasia. Em sua aparente simplicidade o mito encobre e torna solidárias múltiplas forças psíquicas. Todo mito é um drama humano condensado. É por isso que qualquer mito pode servir facilmente de símbolo a uma situação dramática atual. (Bayard 1978).

Sem dúvida, sempre se compreendeu que os mitos e as lendas nos desvendam as paixões radicais do emocional humano. Neste estudo desenvolvemos o mito “Eros e Psique,” como realidade eminentemente psicológica.

  • O MITO EROS E PSIQUE

O Eros é o amor personificando, em grego Eros do verbo érotas significa desejar ardentemente. Eros é a força atrativa que leva as coisas a se juntarem, criando a vida. É uma força fundamental a continuidade das espécies. Ainda, o mito no Baquete de Platão, o Eros é apresentado como uma força sempre insatisfeita e inquieta.

A psique da mesma forma é a alma personificada, em grego psyké (Ψυχή), significa respirar, princípio vital.

Psique jovem princesa tão bela que de todas as partes ocorriam gente para admirá-la. Passou a ser objeto de culto, sobrepondo-se a Deusa Afrodite, cujos templos se esvaziaram. A Afrodite indignou-se com o fato de uma simples mortal receber tantas honras. Pediu o seu filho Eros, o deus do amor, que atingisse a jovem psique com suas flechas, fazendo-a enamorar-se do homem mais apaixonante do mundo. Entretanto, ao ver a princesa, o próprio Eros apaixonou-se, contrariando as ordens da sua mãe, não lançou suas setas.

Enquanto as irmãs de Psique, casaram-se com reis, a caçula Psique cobiçada por um deus, permaneceu só. Apreensivo seu pai consultou o oráculo de Apolo (Delfos). Este aconselhou o pai da Psique levar a filha vestida em trajes nupciais, até o alto de uma colina. Lá um monstro iria toma-la como esposa. As ordens divinas foram executadas e enquanto a psique esperasse que se consumasse seu destino, surgiu Zéfiro. O leve vento transportou-a até uma planície florida, às margens de um rio. Esgotada por tantas emoções, Psique dormiu. Quando acordou, estava num jardim de um Palácio de ouro e mármore. Ouviu então uma voz que a convidava a entrar. À noite, oculto pela escuridão, Eros amou-a. Recomendou-lhe, insistentemente que jamais tentasse vê-lo.

Durante algum tempo, apesar de não conhecer o amado Eros, Psique sentia-se a mais feliz das mulheres. Saudades de suas duas irmãs mais velhas, pediu ao Eros para vê-las. Zéfiro encarregou-se de leva-las ao palácio. As irmãs invejosas da riqueza e felicidade de Psique, elas insinuaram a dúvida no coração de Psique. Declararam que seu marido, que ela desconhecia devia ser o monstro previsto pelo oráculo. Assim, aconselharam-na, a preparar uma lamparina e uma faca afiada: com a primeira, veria o rosto do marido Eros, com a segunda poderia mata-lo, se fosse mesmo o monstro. À noite, enquanto Eros dormia tranquilamente, Psique transtornada apanhou a lamparina e iluminou lhe o rosto. Viu, então o mais belo jovem que já existira, Psique emocionada com a descoberta, deixou cair uma gota do óleo da lamparina no ombro do Eros. Este despertou sobressaltado e foi embora, para não mais voltar. Afastando-se, disse-lhe em tom de censura: ”O amor não pode viver sem confiança”. Psique de sofrimento psíquico, fora de si, desejava morrer, lançou-se nas correntezas de um rio próximo, mas as próprias águas repuseram-na em terra. Psique, numa profunda tristeza andara pelo mundo implorando o auxílio das divindades.

Entretanto, como não quisessem desagradar a Afrodite nenhuma delas a acolheu.

Psique resolveu dirigir-se a própria Afrodite a mãe de Eros. A deusa fechou-a em seu palácio e impôs-lhe os mais difíceis e humilhantes, trabalhos: separar, grande quantidade de grãos misturados; cortará lã de carneiros selvagens; buscar um frasco com água negra do rio Estige. Na primeira tarefa, Psiqué foi ajudada pelas formigas. Na segunda, as ovelhas de um rebanho sugeriram-lhe que recolhesse os fios de lã deixados pelos carneiros nos arbustos espinhosos. E o terceiro, uma águia tirou lhe frasco da mão, voou ate a nascente do Estige e trouxe-lhe o liquido negro. Finalmente, Afrodite incumbiu-a de ir aos infernos para obter um pouco de beleza de Perséfone (esposa de Hades deus dos subterrâneos). Uma torre orientou Psique para chegar ao reino das sombras, onde habitava a Perséfone. Bem sucedida na prova, Psique voltava com a caixa contendo a beleza, quando resolveu abri-la. Imediatamente, foi tomada de profundo sono. Eros, que a procurava, acordou-a, picando-a com a ponta de uma flecha. Em seguida, o Eros dirigiu-se ao Olimpo e pediu o Deus Zeus para esperar a mortal Psiqué. Foi atendido, mas, antes era necessário que Psique recebesse o privilégio da imortalidade. O próprio Zeus ofereceu abrasia à Psique, tornando-a imortal. O casamento celebrou-se somente entre os deuses. Da união de Eros e Psiqué nasceu a Volúpia (Hedonê,em grego δονή ) que personifica o prazer, sob todas as formas. É descrita como uma jovem sensual.

  • INTERPRETAÇÃO DO MITO “PSIQUE E EROS”

São tantas as analises e interpretações acerca do mito de Eros e Psique, que neste trabalho buscamos uma interpretação psicanalítica plausível do mito, recorrendo, além dos neoplatonicos, sobretudo à obra de Paul Diel (1966) “o simbolismo na mitologia grega”; Cambell; J (1958); Eliade, M (1975); Brandão, J.S (1991); Jung, . G. (1964); Vermant e Vital (1978.

Como se pode observar, o mito se divide em várias partes: a introdução; as núpcias da morte; a tentação de psique e suas paixões; as quatro provas e o desfecho feliz, com a imortalização da heroína psique.

Tema central, inicialmente do mito é o conflito entre Afrodite e Psique. A partir do momento, cada vez mais seus seguidores se afastavam de seus templos, tudo por causa de uma simples princesa mortal a Psique, a Deusa Afrodite ferida em sua dignidade de grande mãe, deixou-se dominar por um ódio, e resolveu usar seu filho Eros para destruir a rival Psique, ou seja, para punir a desmedida (hibris), a demacia imoderação de uma pobre mortal.

Outro aspecto observável no mito sobre o casamento da Psique. Todo casamento é um capto de filha, a flor virginal. Desse modo, todo casamento é como uma exposição no cume de um monte e uma espera pelo homem masculino a quem a noiva é entregue. O velar-se da noiva é sempre o velar, o encobrir do mistério, e o matrimonio, como as núpcias, é um arquétipo central dos mistérios femininos. (Jung, 1964).

O caráter do rapto, que o evento assume, expressa, relativamente o Feminino, a projeção do elemento hostil sobre o homem, como a resistência do feminino ao casamento e como a dominação do masculino. O atraso intencional da noiva em chegar ao local do casamento se configuraria numa simulação simbólica de fuga.

O significado do encontro entre o homem e a mulher foi certamente interpretado de varias formas, mas para o homem significa vitória, satisfação dos desejos e para o feminino, destino, transformação e o mais profundo mistério da vida.

Não é por mero acaso, que o símbolo central da virgindade seja a flor e é significativo o rompimento da virgindade, se denomina defloração.   Para o feminino o ato de um fim e um começo, entre um deixar de ser e penetrar na vida real.

De qualquer forma, torna-se compreendido, na vida do feminino, a transição da virgem-flor pra a mãe-fruto. O tema das núpcias ocupa, sem duvida um ponto central no mito de psique e aos pais abalados com o destino da filha, deixada a psique sozinha no cume do rochedo, a princesa é levada pelo vento Zéfiro e transportada para o palácio de Eros.

O casamento, que fora percebido por uma separação da psique dos pais, um autentico rapto, é então consumado num cenário típico das “mil e uma noites”: agora quando a noite já ia avançado, uma voz suave lhe chegou aos ouvidos. A psique temia por sua virgindade, vendo-se completamente só. Por fim, chegou seu misterioso fenômeno, subiu o Eros ao leito e fez psique sua mulher, mas antes do amanhecer, desapareceu de pressa. 

Psique, todavia parecia feliz e vivia em um espaço de conforto e um estado paradisíaco. Todo paraíso, no entanto, tem sua serpente e a felicidade noturna da psique não poderia durar para sempre. O intruso, a serpente venenosa disse Éden, é representado pelas irmãs casadas, que cegas de inveja, planejaram desmoronar a ilusão e a felicidade paradisíaca da psique, que também aqui, equivale à expulsão do paraíso.

Qual seria o significado das irmãs no mito da psique? De inicio, ambas se casaram, muito mal. Suas núpcias símbolo da escravidão patriarcal, são exemplos típicos do que se poderia denominar a repressão do feminino no patriarcado. Embora não se possa minimizar o fenômeno da inveja das irmãs em relação o espaço de conforto da irmã psique.

A visita das irmãs introduz a primeira perturbação nesse paraíso de prazeres. Desse modo as imagos das irmãs representam projeções reprimidas inconscientes da infância e provoca um conflito no interior da psique, atuando as irmãs como o aspecto sombra da amada de Eros. Desde a primeira visita das irmãs a psique adquire uma certa independência em relação ao amado Eros e a si própria. A psique percebe que sua existência e convivência com Eros não passam de uma dependência ou prisão luxuriosa e sente saudades da presença de seres humanos.

Ate então ela havia flutuando na ilusão ou na correnteza de uma êxtase inconsciente, mas agora começa a perceber a ilusão e fantasmática irrealidade de seu paraíso sensual e seu contato com o Eros, a tomar conhecimento de sua feminilidade.

Na realidade, até o momento, psique, apesar de seu paraíso sensual, viveu na sombra, num perfeito estado de dependência. A existência da psique era uma não existência, uma vivencia no escuro, um êxtase de sensualidade, algo assim que poderia ser caracterizado, como sendo num estado de dependência absoluto. É exatamente esta situação que torna possível o conflito em psique: no mesmo momento que ama seu amado, também odeia e foi essa constatação que permitiu as irmãs seduzi-la. Embora, ignorasse a aparência do Eros, e conforme as irmãs era um monstro, eram elas que a conscientizaram do pressuposto aspecto do seu marido. Não lhe sendo, mais possível permanecer em seu antigo estado inconsciente, a psique é coagida a ver o verdadeiro rosto do seu amado.

Assim, armada com um punhal afiado e segurando uma lamparina, aproximou-se do Eros e, na luz reconheceu o Eros tentou matar, mas fracassou. Depois, enquanto se extasiava com a beleza do marido, inclinou-se para beija-lo e uma gota de óleo fervente, caindo da lamparina queimou e feriu o Eros. 

Acordado sobressaltado e, constatando a desobediência da psique , abandonou-a imediatamente. E aqui se inicia o drama de psique, a busca da individuação e da independência, que sempre dói muito, porque é uma separação extremamente difícil.

A psique que se aproxima do leito, em que dorme Eros, não é mais aquela criatura dependente e envolvente seduzida por seus sentimentos, que vivia no paraíso e do desejo prazeroso. Mas, ao brilho da nova luz com que ilumina a escuridão inconsciente de sua antiga existência, conscientizada pelas incursões de suas irmãs, reconhece Eros. Agora, ela ama, conscientizada, ela experimenta uma transformação profunda: descobre o amor verdadeiro, tenta apunhar-se, em outros termos, fere-se com uma flecha de Eros.

Com isto, abandonando o aspecto inconsciente infantil de seu mundo intrapsíquico, renuncia igualmente ao aspecto matriarcal (dependência inicial no corpo da mãe), a luz do novo amor, psique reconhece Eros com um deus que sintetiza em si o inferior e superior.

O que a Psique experimenta agora é uma transformação que se passa em seu interior psíquico.

A Psique, que conheceu, porque viu Eros na luz, não é mais a menina ingênua e infantil em sua atitude contra o masculino. O amor ao ver o Eros, fez com que passasse a existir dentro dela um Eros que não é mais aquele que dormia diante dela, ou seja, fora dela. Seu Eros interior, imagem de seu amor é, na realidade, uma forma superior e invisível do Eros que dormia a seu lado.

A perda do amante, neste momento, é uma das mais profundas verdades do mito. Este é o momento trágico que toda psique feminino assume seu próprio destino. Eros foi ferido por Psique. A gota de óleo, que o queimou acordou e fez-lhe ir embora.

Para ela, o Eros era desejável enquanto no escuro, e ele possuía com exclusividade. Afastada do mudo vivendo apenas para ele, sem participação e interferência, em sua existência consciente. Ao libertar-se de Eros, saindo da escuridão, a Psique despoja o Eros de seu poder sobre ela. Agora, os dois se defrontarão como iguais. Em novo plano, amando-se conscientemente.

Sua grande tarefa há de ser a unir-se de novo a ele e formar um todo. Assim, a iniciativa de Psique é um novo desenvolvimento que envolve não apenas a si mesmo, mas que também atinge a seu parceiro.

O Eros como se comporta face a essa transformação da Psique? Ele foi ferido por sua própria flecha, ou seja, ama Psique desde o inicio, mas ela, só começou a amá-lo, após seu ato heroico. Aquilo porém, que Eros denomina seu amor e o modo como o desepenhava chocam-se com a Psique e sua operação libertadora, que resultou por expulsar a Eros e a si mesma do paraíso da inconsciência.

Psique através de seu ato toma consciência e do amor que sente pelo mesmo. Trata-se, no entanto, do inicio de uma transformação psíquica e um desenvolvimento da consciência, adquirindo uma independência e uma história individual de uma situação humana de vida. A psique é um ego ativo, ou seja, um grandioso funcionamento da personalidade humana. 

Aqui no caso feminino, é de enfraquecer o que antes era algo todo poderoso (Eros que representa os impulsos) paralelamente o Eros que, através do sofrimento, se humaniza e prepara o caminho para a união com a Psique humana.

Assim, inicia-se uma nova fase do desenvolvimento de Psique e Eros. A Psique está preparada para enfrentar as quatro tarefas impostas pela Afrodite 

A primeira tarefa, consistia em separar um monte de cereais as sementes de trigo, cevado, milho, grãos-de-bico, etc, tudo por espécie e numa só jornada. Foi com a ajuda imprescindível das formigas que Psique conseguiu concluir a tarefa. O significado desta tarefa é, que os animais ajudantes são símbolos do mundo dos instintos. Psique possui em si um principio inconsciente, que lhe permite selecionar, peneirar, avaliar e, assim, encontram-se seu próprio caminho em meio à confusão do masculino.

A segunda tarefa ainda mais difícil consistia em trazer para Deusa Afrodite os flocos de lã de ouro que cobriam o dorso dos carneiros ferozes que passavam num bosque, à beira de um rio. Qual seria o significado dessa tarefa? Os carneiros simbolizam o poder  masculino, e pode ser interpretado com um ato de tomar posse, como uma opressão, como foi o gesto de Dalila, ao cortar os cabelos de Sansão, o herói solar.

Psique estaria destruída pelo opressivo principio masculino, se enfrentasse os carneiros, símbolo do poder tirânico masculino, com o qual o feminino não se pode defrontar.

Após o pôr-do-sol surge à situação de amor, quando é seguro pegar os cabelos dos carneiros do sol, que se acalmam e buscam o descanso. Estes cabelos são poderes masculinos da fertilização e o feminino, necessita apenas consultar seus instintos para conseguir uma relação fecundada, ou seja, uma relação amorosa com o masculino, ao cair da noite.

Para realizar a terceira tarefa, Psique deveria trazer para Afrodite uma jarra cheia de água que alimentava dois rios infernais. O significado da tarefa é uma variante da busca da água da vida, ela une o superior, o mais elevado, e o inferior, o mais profundo. A dificuldade consiste em captar numa jarra o liquido dessa fonte, que significa a corrente da energia vital. A águia, segurando a jarra, configura a já masculino-feminino sublimação da Psique, que recolhe e concebe, mas ao mesmo tempo, compreende e sabe o principio masculino da águia. Assim, permite lhe receber uma parcela do mesmo, sem que seja por ele destruído.

As três tarefas uma vez executadas com a assistência significam que Psique pode receber e assimilar o masculino e dar-lhe forma, sim perigo de ser destroçada pelo destrutivo poder.

As três primeiras tarefas são executadas com a assistência de ajudantes, animais ou seja, por forças internas da inconsciência da Psique. A quarta e última tarefa deverá ser realizada apenas por ela mesma. Na ultima tarefa será apoiada pela torre um símbolo da cultura e do conhecimento humano.

Psique armada com as instruções da torre, faz a grande katabasis, a perigosa decida em defesa de seu único amor Eros.

A catabase de Psique ao reino de Hades é uma viagem mais difícil de todos os seus trabalhos, porque requer a luta com a própria morte. Quando chegava ao subterrâneo encontra a Persefone esposa de Hades e recebendo uma caixa fechada a Psique não poderia abri-la. Ela abrindo-a, cai num sono semelhante à morte. Que significa essa caixinha que contém beleza imortal? Qual o sentido do seu sono e da intervenção de Eros, que a liberta do sono da morte?

O creme de beleza imortal significa possivelmente, a eterna juventude de Perséfone, a juventude de Thanatos.

Trata-se, portanto da beleza do sono semelhante à morte, conhecida nas lendas da “bela adormecida” e da “Branca de neve”, condenadas pela mãe terrível, a madrasta, ou pela velha bruxa.

É evidente que a independência de Psique começa no período da gravidez.

Enquanto está na esfera matriarcal conduz a uma união entre mãe e filha, aqui o despertar de Psique para a independência, que se inicia com a gravidez, leva-a ao encontro do amor e da consciência.

O final feliz devido a Eros, que desperta a esposa Psique do sono da morte. Este fracasso da Psique abrir a caixinha proibida e entrar no sono, que lhe dá a vitória. Esta é a maior luta que se conhece, contra o monstro. Quando Psique decide abrir a caixinha e usar o “creme da beleza imortal, devia estar consciente do perigo a que se expunha”. E porque ela o fez por ela e para Eros, sua antiga feminidade entra em nova fase. Já não é a beleza fechada em si mesmo, nem a beleza sedutora, trata-se da beleza da mulher que ama, que deseja ser bela para o Eros e para mais ninguém. Ao tomar tal decisão, ela renova sua self. Este toque feminino, de mulher que tudo sacrifica pelo amor.

Através do aperfeiçoamento de sua feminilidade e de seu amor, a “Bela adormecida” evoca a perfeita masculinidade de Eros.

Reconciliados o masculino e o feminino, Psique foi recebida no Olímpio como esposa de Eros. Seu guia foi Hermes, que nessa missão, exerceu sua verdadeira função de psicopompo, de guia da “alma feminina”.

De Eros e Psique nasceu uma menina que se chama “Volúpia”, algo muito superior à sensualidade.

Fernando pessoa (1958) numa poesia “Eros e Psique, compreendeu, como sensibilidade e a profundidade, a extensão desse amor – consumação, em que Eros buscando a Psique, acaba descobrindo que ele é a própria Psique, transfigurada em amor”.

  • CONSIDERAÇÕES FINAIS

Numa síntese do mito Eros e Psique, o Eros representa a divindade que precede a sexualidade em seu conjunto, tanto em sua forma banalizada, quanto em sua forma sublime. A banalização consiste no mau uso da função que não busca senão o prazer físico, a sublimação acrescenta à ligação e união.

Psique, personificação da alma, deixa-se seduzir por Eros sob sua forma perversa, entrando numa banal decadência.

Psique é aprisionada num palácio por Eros, simbolizando as promessas da luxuria da qual é prisioneira e não pode libertar-se.

Eros, amante só vem visitar a Psique que lhe é cativa ao abrigo da sedução imaginativa que a escraviza. O sedutor ordena expressamente à Psique. À noite e a proibição de ver, são símbolos claros de um desejo que tem necessidade de esconder-se vergonhosamente, de um sentimento inconsciente, consequência do recalcamento.

Uma noite, Psique ao lado de Eros adormecido, infringe a interdição e cede à tentação de conhecer o objeto de sua paixão. Com a luz de uma lamparina descobre o Eros. A lamparina acesa simboliza o despertar da clarividência que começa a dissipar o encantamento imaginativo.

Livre de sua cegueira, Psique com seus quatro trabalhos difíceis, efetua o amadurecimento e desenvolvimento mental, encontra a clarividência: o amor, Eros não se apresenta mais a ela sob o aspecto de um prazer físico e sedutor. Reaparece sob sua forma real, idealizada pela simbolização e representado como divindade olímpica.

Psique com a sublimação do amor, torna-se esposa de Eros. A Psique reencontra a capacidade de união, na verdadeira visão do amor. Contrario os símbolos mais frequentes desse castigo são: afundar na lama ou no abismo.

Referências Bibliográficas.

Freud, S. (1900) the interpretation of dreams em Freud Collected Papers, Hoyarth Press

Diel, P (1966) Le symbolisme dans la mytologie grecque, edit. Payot, Paris 

Taplin, O. (1990) Fogo grego. RTC/ Gradiva, S.P 

Brandão, J.S (1991) Mitologia Grega . Edit Vozes, Petropolis.

Bayard, 1 P (1978) Le Symbolisme du  caducei guy tredaniel, Paris

Cambell, J (1958) the symbol without meaning, rheinverlag

Eliade, M. (1975) and Rebirtb. Harper, New York

Laplanche, 1 e Pontalis, J.B (1985) vocabulário da psicanalise Ed Martins Fontes, S.P

Vernant, 1 P et Vidal, P (1972) Myth et tragédie em grece Ancienne. Maspero, Paris

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