Mal Estar na Atualidade

Por

Prof. Dr. Antonios Terzis

Diretor acadêmico do CEFAS

São várias as contribuições de Freud para refletir sobre os fenômenos sociais e culturais da própria clínica psicanalítica e em geral da pós-modernidade. Alguns acontecimentos da atualidade, do mundo e do Brasil nos levam a ver um número crescente de pessoas conservadoras, questionando liberdades e valores, manifestações de diferenças de gênero e ideologias, fascismo e uma postura homofóbica, etc.

Desde o estudo de Freud sobre o “Mal Estar na Civilização” identifico fenômenos que podem ser interpretados como sintomas de sofrimento psíquico em qualquer época e lugar e a cultura oferece soluções que tentam minimizar o sofrimento que ela produz. Vivemos atualmente um contexto social que alguns valores são muito mais fluídos e flexíveis: a pessoa tem muito mais liberdade para inventar novas formas de vida em relação ao modelo antigo dominante, onde a família patriarcal era como único modelo legítimo e possível. Na época de Freud quem imaginava uma família monoparental?

A atual realidade social, cultural e econômica é diferente do que foi a anterior, quando as instituições eram fortes e determinavam com firmeza o permitido e o proibido, o certo e o errado. Havia um conjunto rígido de valores universais que orientava a conduta da pessoa. Aquela pessoa que não se encaixava no modelo prescrito era vista como desviante.

Em oposição a essa rigidez, atualmente vivemos em situação social em que os valores são mais fluídos e flexíveis. Pensamos que cada momento histórico produziu um tipo específico de conservadorismo. Na época de Freud tinha determinações bem diferentes da nossa época. Frequentemente me deparo com situações onde gerações anteriores a nossa se queixam dos jovens de hoje em dia, chamando-os “nova geração”, jovens que cresceram no mundo globalizado, ligados na onipresença das tecnologias, especialmente da internet e das facilidades materiais e conflitos geracionais entre os mais jovens e os mais velhos.

A geração mais velha descreve os mais jovens como “egocêntricos”, “dependentes”, “preguiçosos” e atuam mais pelo princípio do prazer. Não sabem que é preciso reconhecer a realidade e dar duro para se tornar alguém na vida, sem esperar tudo fácil. Na atualidade existem novas formas de sofrimento psíquico. Existe uma crise social instalada, que leva o sujeito ao seu externo: superficialidade dos vínculos humanos, banalização do consumo e precarização das relações de trabalho.

Nos dias atuais, observamos as novas tecnologias e perspectivas que desafiam: o papel da família e da escola na educação das crianças vem sofrendo profundas mudanças e gerando questões que solicitam urgente reflexão. As gerações anteriores não conseguem responder mais às inúmeras indagações que esses novos paradigmas nos propõem. Por isso, como os problemas são novos precisamos pensar em novas soluções.

O adulto precisa servir de referência às crianças e adolescentes, orientá-los e ajudá-los a construir o conhecimento. O CEFAS para auxiliar nessas respostas organizou o XXVII Simpósio nos dias 9 e 10 de Novembro de 2018.

A maior complexidade do mundo atual exige da psicanálise mais recursos do ponto de vista emocional. É necessário desenvolver ainda mais eventos e pensar melhor em cada situação de modo a poder dar respostas mais eficientes para cada mal estar da atualidade.

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